quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Uma simples pergunta: por quê?

Daniel Reis
membro do Comitê Regional do PCB-RJ

O assunto da semana - talvez do mês e do ano - é a morte do cinegrafista numa manifestação. Ninguém mais fala do aumento da passagem, nem da qualidade do transporte. Muito menos do quanto está caro viver nessa cidade.

Mas eu queria perguntar por que chegamos a esse ponto de tensionamento em manifestações? Existia rojão em manifestação em Junho?

Esse governo sádico implanta o terror estatal onde finca a bandeira da UPP. Nas quais os comandantes se acham acima da lei: proibindo manifestações culturais e suprimindo direitos individuais consagrados pela Constituição. Ao mesmo tempo empurra a violência para as demais áreas do Estado, aumentando o conflito entre facções rivais no subúrbio, a existência de tráfico de drogas e a consequente guerra para Baixada onde não existia e disparando a violência no interior.

Esse é o governo do conflito de interesses - o governador divide o leito conjugal com a advogada da Supervia, das barcas e do metrô. As concessionárias de transporte público prestam um lixo de serviço e quem deveria fiscalizá-las dorme com uma das principais interessadas em manter as coisas do jeito que estão.

Esse governo é tirano pois enviou a polícia para dentro da Câmara de Vereadores para expulsar da "Casa do Povo” professores e demais profissionais da educação em greve. Greve (que não acontecia há 19 anos!) essa não somente por salários, mas por melhorias na qualidade do ensino e nas condições de trabalho.

Esse governo quer, através dos meios de comunicação - que recebem rios de dinheiro público -, desviar sua atenção do principal: Esse aumento é imoral! O aumento do valor das passagens nos últimos 10 anos é 5 vezes maior que a inflação nominal do período! A oferta de ônibus na cidade do Rio de Janeiro é elitizada. A qualquer hora do dia ou da noite você consegue chegar na Zona Sul, enquanto quem vive no subúrbio, Zona Oeste ou Baixada tem de conviver com a retirada de ônibus das linhas e longas esperas nos pontos. Quando fazem alguma melhoria, ela é bancada pelos cofres públicos (compra de novas composições do metrô/ trem feita pelo governo e climatização dos ônibus com aumento da isenção tributária). Sem esquecer o péssimo serviço da Supervia, do metrô e das barcas.

Não estou insensível a morte do cinegrafista. Um trabalhador perder a vida da forma como foi é extremamente doloroso. Mas por que a Bandeirantes não forneceu a ele os equipamentos de segurança necessários para o exercício da função? Por que a mídia quer pegar esse caso isoladamente? Por que não falam das inúmeras violências que os profissionais da imprensa (e advogados!) são submetidos constantemente em manifestações por ação da PM?

A verdade é que a Polícia Militar do Rio de Janeiro tem de acabar! É um instrumento para criminalizar a pobreza e os movimentos sociais. Um poderoso instrumento nas mãos do governo do estado que não tem limites para rasgar a Constituição e impor o terror, seja nas favelas ou nas manifestações sociais.

Por fim, a responsabilidade desse governo não pode ser subestimada ou esquecida. Esse é um governo que desrespeita as liberdades individuais ao tentar impedir de todas as formas possíveis o direito legítimo à manifestação. Esse é um governo que achincalha a democracia (mesmo a frágil democracia do Estado Democrático de Direito) ao optar pela repressão policial - que beira a loucura ao jogar bomba de gás lacrimogênio no terminal da Central do Brasil num horário de pico de passageiros - quando deveria optar pelo DIÁLOGO POLÍTICO, parte intrínseca de uma sociedade que pelo menos se propõe a ser DEMOCRÁTICA.