terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Nova Friburgo dois anos depois da tragédia: o descaso continua

Pelo Comitê Municipal de Nova Friburgo
(Base Francisco Bravo)
janeiro/ 2013

Passados dois anos da maior tragédia climática da história do país, Nova Friburgo, palco principal do drama, segue ainda devastada. Se, por um lado, algumas das feridas abertas no triste 12 de janeiro de 2011 podem ser fechadas, outras tantas ainda sangram no cotidiano da cidade serrana.

Enquanto o centro da cidade é “maquiado”, tentando dar aos friburguenses uma falsa sensação de segurança e tranquilidade, a classe trabalhadora, maior vítima da tragédia e do descaso político, segue vendo suas comunidades abandonadas pelo poder público. Nos bairros periféricos – os mais violentados pela tragédia –, encostas continuam ameaçadoras, ruas continuam esburacadas, casas continuam condenadas e a população continua em risco. Sem a entrega das casas populares e, quando muito, recebendo o insuficiente aluguel social, inúmeras famílias continuam sem ter onde morar e outras tantas, sem opção, arriscam-se vivendo amedrontadas pelas chuvas em áreas de perigo iminente.

Os milhões de reais que chegaram à cidade, vindos dos governos federal e estadual, encheram os bolsos das empreiteiras e de alguns poucos políticos, mas não ergueram uma única casa para uma única família necessitada. Décadas de cumplicidade do poder público com os interesses da especulação imobiliária e da ocupação desordenada do solo trouxeram lucros para poucos e desgraça para muitos.

Entretanto, se passado e presente, terríveis, apontam para um futuro sofrido, nós, trabalhadores, revoltados com o descaso do poder público, temos o dever de nos levantar em favor de todos os atingidos pelas tragédias passadas! Devemos exigir dignidade aos que estão vivos e seguem sofrendo no dia-a-dia, todos os dias, a dor de suas perdas. Somente um movimento amplo e a união da sociedade civil organizada em torno desta causa podem decretar e direcionar os rumos da cidade para o que deve ser um futuro digno e seguro a todos os que sofreram e ainda sofrem por causa das chuvas.

BASTA de descaso! Exigimos a construção das CASAS e uma POLÍTICA HABITACIONAL que atenda as reais necessidades da população! SEGURANÇA e medidas de PREVENÇÃO diante de novas enchentes e tempestades! CONDIÇÕES DIGNAS DE VIDA para a classe trabalhadora, para que não haja mais lamentos, tristezas e perdas no futuro.
CHEGA DE ENROLAÇÃO! QUEREMOS SOLUÇÃO!
DIGNIDADE, TRABALHO E MORADIA!

NO ESTADO DO RIO, TODO ANO A HISTÓRIA SE REPETE!

Não bastasse o trabalhador ser explorado e esquecido pelos governos o ano inteiro, no verão a coisa piora. E muito!

Após o ocorrido em Angra dos Reis em 2010, quando um grande deslizamento de terra provocou a morte de 30 pessoas, foi a vez de a Região Serrana ser palco de uma tragédia de enormes proporções, onde mais de 1.000 pessoas morreram, apenas um ano depois. Os anos de 2011 e 2012 foram recheados de promessas, com muito dinheiro sendo planejado para contenção de encostas, desentupimento de bueiros, além da construção de casas populares. Tanto para Região dos Lagos, quanto para a Região Serrana. E o que acontece? As chuvas do verão de 2013 continuam causando estragos. O número de desabrigados ou desalojados em todo o Estado do Rio quase chegou aos 5.000.

Em Xerém, Duque de Caxias, mais de 1.500 famílias estão passando necessidades. Essas regiões estão em constante estado de alerta e não há pontos de apoio suficientes para o deslocamento em caso de ameaça de deslizamento ou enchente. Já em Angra dos Reis, até o momento, não há fornecimento de energia em muitos pontos da cidade e um encontro com os secretários estaduais do Meio Ambiente e Saúde, Carlos Minc e Sérgio Cortez, respectivamente, está agendado. Foi assim em 2010 e 2011, e nada mudou.

A mídia burguesa destaca sempre o aspecto natural e climático da tragédia, como se a população estivesse condenada a viver o mesmo infortúnio todo verão. Nada há de natural em tudo isso. A destruição ambiental, a ocupação sem planejamento dos espaços urbanos, o crescimento desordenado das cidades são efeitos da expansão capitalista e da especulação imobiliária. Os interesses do capital prevalecem sobre as necessidades humanas. O governo Sérgio Cabral e as prefeituras que lhe dão apoio político já demonstraram que não estão preocupados com o trabalhador e as comunidades populares. Além do que já foi apontado, tragédia gera obra, que gera verba para as empreiteiras e que sustenta a corrupção.

Somente com a organização e a luta dos trabalhadores, poderemos transformar esta realidade.